segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

The First Time


Minha vida sempre funcionou como um circuito elétrico defeituoso. Às vezes, ela está extremamente energizada, um gira-gira incessante, mas se, de repente, alguma função se modifica, levo um tremendo choque e me atiro ao chão. Então, pára tudo de vez.
Assim aconteceu naquele dia.
O vento soprou para dentro da janela empurrando a cortina e também o sentimento de fúria que me atormentava. Era a chegada de novos ares, novas cores, novos amores.
A chuva que caía e molhava tudo lá fora também viria a me encharcar de lágrimas e levemente lavar meus tormentos. Fugindo de uma desastrada paixão mal resolvida, ali estava eu, prestes a nunca mais reviver o desgosto de não ser correspondida. A alternativa que me cabia naquele momento era me esconder atrás do próprio rancor para, ao menos tentar impedir que novos afetos me afligissem. Ah, os afetos! Cheguei a odiá-los. Pendurei-os na parede e fiz um tiro ao alvo. Por um instante, pensei que fosse possível acertá-los por completo, impedindo que voltassem a me torturar. Mas aquele impedimento disfarçado não possuía efeito algum. Bastou uma única frase para que um longo diálogo se arrastasse até o silencioso final da madrugada, beirando o amanhecer.
- Como vai o seu fim de semana chuvoso?
Aquele poderia ser qualquer outro fim de semana, como todos aqueles outros em que o domingo é pavoroso, tedioso, desastroso. Estou falando dos domingos em que, a cada minuto que percorre o relógio, mais e mais você se consome com o pensamento de que a segunda-feira se aproxima. Haja fôlego para aguentar tanta tortura todo santo fim de semana! Mas, aquele não era um fim de semana desses em que o ócio conseguira me arrastar. Naquele dia, a chuva regou os insistentes pensamentos desesperançosos que regiam minha mente e, ainda abriu uma estrada bem no meio do labirinto em que me perdera.
Pensamentos soltos, mente liberta, caminho liberado e, então, o terreno se encontrava novamente fértil para que brotasse ali, um novo afeto. Era a chance de fazer acelerar outra vez aquele coração em que as cicatrizes cobriam toda a superfície e ainda retardavam seu movimento.
Subitamente, passei os olhos sob o relógio. As horas haviam decolado e voado até o surgir dos primeiros raios de sol. O céu já não era escuridão, dali para frente só amanheceria, de modo que, eu e você, jamais seríamos solitários andarilhos. Aquele dia, era o primeiro dia. E mais tarde diríamos que aquele foi, somente, nosso primeiro dia.

(FERRARI, Jaqueline, 2011)

Um comentário:

  1. Nossa! tá apaixonada mesmo heim prima!
    haha, tbm faço tiro ao alvo com meus afetos, felizmente consegui acertá-los por completo! :)

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